sábado, 16 de julho de 2011

David de Oliveira




David na casa de tio Elias, em Recife

Filho de cristãos novos nascido na cidade do Porto, Portugal, em 1623, David foi batizado como João Maria de Oliveira na Igreja de São Nicolau aos seis meses de idade, às vésperas de ser levado à Amsterdã, Países Baixos, onde sua família iria se estabelecer, fugindo das perseguições da inquisição portuguesa.
O batismo católico em Portugal e a adoção de um nome típico dos cristãos do reino foi uma maneira de evitar suspeitas sobre a família. Porém, uma vez na Holanda, país onde havia tolerância religiosa, pai e filho passaram pelos rituais de circuncisão e batismo, recebendo, respectivamente, os nomes Samuel e David e podendo, a partir de então, professar o judaísmo livremente, estudando língua e cultura hebraicas, guardando os ensinamentos do Tora, a bíblica judaica.
Aos 14 anos de idade David é atraído pela pintura, arte muito em voga na Holanda no período, tornando-se aprendiz no ateliê de Frans Hals retratista célebre cuja técnica admirava. A oportunidade de fazer parte da comitiva do Conde Maurício de Nassau na qualidade de assistente de um dos pintores lhe pareceu muito excitante. Preferia servir Albert Eckhout, pois nutria o desejo de se dedicar ao portrait, e a fama do pintor já era reconhecida nesta época. Mas a vaga que havia era a de assistente de Frans Post, o pintor paisagista.
Samuel, seu pai, tinha negócios com a Companhia das Índias Ocidentais, uma empresa criada pelo estado e pelos comerciantes holandeses para explorar o comércio ocidental, sobretudo o açúcar e tabaco do Brasil. Mas Samuel diversificava cada vez mais os produtos e reconhecia o Novo Mundo como um local de prosperidade. Para permitir a partida do filho exigiu que este constituísse um contato permanente de vendas junto a Tio Elias, primo de Samuel que já estava em Recife.
David parte de Holanda em 1640, com a missão de representar os negócios do pai junto à comunidade judaica estabelecida em Pernambuco, além de prestart assistência ao pintor Frans Post.
David é um rapaz de baixa estatura, nem gordo nem magro, cabelos castanhos que emolduram todo o rosto e vez ou outra lhe incomodam os olhos negros. Sua estrutura física menor lhe confere uma certa agilidade e um quê de meninice acentuado por sua intensa curiosidade por tudo e por todos. Adorava passear no cais de Amsterdã onde sempre conhecia pessoas novas, gostava de se abandonar ouvindo a diversidade de idiomas incompreensíveis para ele. Cultiva, portanto, um espírito cosmopolita e a pintura parece ser seu salvo conduto para se atirar no mundo.
É com esse desejo, o de pintar o mundo, que David se move no Brasil, que suporta o gênio explosivo de Post, que busca estudar, nas horas vagas, o estilo de Eckhout, que se entrega a uma história de amor e amizade com Cabelo de Fogo, uma prostituta holandesa que visita em um cabaré próximo ao cais de Recife. Este espírito faz com que David se decida a não voltar para a Holanda quando Nassau parte de volta acompanhado de sua comitiva.
David fica no Brasil e resolve se oferecer para integrar uma expedição de Guerra enviada pelo novo governo holandês ao Quilombo dos Palmares. David convence o capitão de como seria glorioso para ele ter sua vitória retratada.
Este espírito curioso e cosmopolita se mantém em David quando, preso em Palmares, passa a retratar o cotidiano e os membros do Quilombo, suas lutas.
David se amanceba com uma índia. Tem filhos. Se engaja na luta dos palmarinos ampliando a rede deles para a compra de armas e outros produtos. Quando os holandeses são expulsos do Brasil, a inquisição acirra sua atuação.
Numa das últimas expedições – agora do governo português – contra Palmares, David é preso. Levado a ferros a Portugal acusado de ser judeu e de ter colaborado com inimigos do Reino, os palmarinos, David é condenado à morte no Palácio dos Estaus, sede da inquisição, em Lisboa.

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