sexta-feira, 15 de julho de 2011

Kofi Manu



Kofi em Juabem, na África


Kofi é filho de um chefe guerreiro Acã, do grupo axante, que vive no interior da África, na altura da região da Costa do Ouro. É muito jovem. Os guerreiros axantes se preparam para as guerras usando braceletes e anéis de ouro, além de vários amuletos. Preso junto a um grupo de axantes contra os denquiras numa guerra de razia em 1640, Kofi é vendido como escravo para os holandeses no forte de São Jorge da Mina, litoral africano.
Kofi estranha o navio negreiro da Companhia das Índias Ocidentais, não
conhecia navios daquele tamanho. Tem certeza de que irá morrer e invoca o
deus supremo dos axantes, Oniame. Não para pedir perdão, pois a misericórdia não é característica no deus axante, mas, para tentar descobrir com que deveres para com ele havia faltado.
Kofi desenvolve no tenebroso navio uma outra forma de relação com a morte
e fuga da dor. Se deixa mergulhar constantemente em lembranças de sua vida.
Assim conheceremos sua história em flash backs de fatos ou apenas lembranças idílicas. Kofi vem de Juabem, cidade-estado fundada na mineração aurífera. Neste reino havia uma grande floresta onde exploravam ouro em galerias subterrâneas. Seu povo comprava escravos de mercadores portugueses e africanos para trabalharem na mineração. Tinha veneração pelo Ashantehene, o rei dos axantes, que sempre desfilava em épocas de colheita.
Kofi tinha especial admiração pelo velho Amk, um akomfo (médium) que invocava atanos (divindades ligadas especificamente aos rios) e abosons (ligadas a vários aspectos da natureza como pedra, árvore, montanha). Gostava quando Amk incorporava um atano que lhe contava histórias dos rios. Kofi repetia as palavras dele quando mergulhava prazerosamente no rio Gunge à cata de conchas, caramujos, pedras. Quando Amk morreu, este atano deixou de aparecer, só se manifestava no velho.
Kofi cresceu ouvindo o som do pilão na sorga ou no inhame. Vivia no pátio
em meio às mulheres que, como sua mãe, cuidavam de tudo. Quando fez 10
anos de idade, foi morar com o tio, o irmão de sua mãe, seguindo a tradição
matrilinear dos axantes. Lá, junto com outros meninos, aprendeu a fazer e usar armas como lanças e até a forjar facas e machadinhas.
Quando foi preso, Kofi já tinha duas mulheres, Ama e Abena.
Quando chega ao Brasil e avista a costa, Kofi percebe que sobreviverá. Vendido como escravo, sua motivação é, primeiramente, negociar sua liberdade e voltar para seu reino. Outros africanos, axantes ou não, reconhecem sua origem nobre, reverenciam-no mesmo no trabalho do eito, no engenho. Aos poucos entende que jamais voltará para Juabem. No trabalho violento do engenho, ouve notícias de Palmares. Decide-se intimamente, a fugir para lá.
Uma vez em Palmares, Kofi oferece seus conhecimentos de guerra. Contribui com novas formas de armas, armadilhas, estratégias. Torna-se um militar de elite, homem de confiança de Ganga Zumba. As mulheres eram raras em Palmares e ele precisou sequestrar uma para si no engenho onde fora escravo. Ganga Zumba lhe presenteou com outra, uma índia. Kofi passa quase 50 anos em Palmares. Presencia seus momentos de glória, a negociação de Ganga Zumba com o governo português em 1678, a dissidência de Zumbi. Kofi morre aos 70 anos de idade vítima da expedição de Domingos Jorge Velho que derrota o Quilombo.

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